terça-feira, maio 24, 2005

RESUMO DO COLÓQUIO/DEBATE "A SECA NO ALGARVE - CONSEQUÊNCIAS E MEDIDAS MINIMIZADORAS"

A JSD/Algarve organizou no passado dia 20, no Auditório da Biblioteca Municipal de Faro, um Colóquio/Debate subordinado ao tema “A Seca no Algarve - Consequências e medidas minimizadoras” que contou com mais de meia centena de participantes.

Após a apresentação da mesa de convidados, que era composta pelo Eng.º Macário Correia (presidente da AMAL), pelo Eng.º Carlos Cabrita (representante da associação Almargem), pelo Eng.º João Entrudo (presidente da Associação de Jovens Agricultores do Distrito de Faro) e pelo Prof. Doutor Nuno Loureiro (docente na Universidade do Algarve), o referido professor iniciou a apresentação de uma comunicação introdutória ao tema da Seca.




Durante os 60 minutos que durou a conferência apresentada pelo Prof. Doutor Nuno Loureiro, foram descritas as características meteorológicas e os seus ciclos na região algarvia e foi referido que o fenómeno da Seca, não é novo no Algarve. No entanto está a ser o período de seca mais intenso desde 1940 e segundo alguns dados apresentados, tem-se verificado sistematicamente um decréscimo na precipitação algarvia de cerca de 2 mm/ano.

De forma a combater os prejuízos causados por estes períodos de menos pluviosidade, torna-se fundamental criar um Observatório Regional da Seca, que efectue uma análise histórica dos fenómenos meteorológicos da região e se proceda ao seu acompanhamento. De igual forma, este Observatório deverá identificar as áreas e os grupos de população que são mais afectados directamente por este fenómeno, promovendo posteriormente medidas objectivas, que resultem em efeitos práticos para a recuperação ambiental, económica e social das áreas afectadas.

Ainda segundo o Prof. Doutor Nuno Loureiro, chove em média no Algarve, por ano, 3,4 mil milhões de m3 e as barragens existentes na região, têm capacidade de armazenar 2,9 mil milhões de m3 de água. Este conferêncista ainda esclareceu que, com a introdução de sistemas economizadores de água, com boas e fortes campanhas de sensibilização de poupança de água, com a reparação de algumas das inúmeras perdas nas condutas e com a diminuição do desperdício público deste líquido precioso, é possível poupar 30,4 milhões de m3 de água por ano só no Algarve. Como todos nós sabemos, o Algarve tem uma população flutuante muito grande e verifica-se que os maiores consumos de água ocorrem nos meses de Julho e Agosto. No Algarve, 113 milhões de m3 de água são gastos na agricultura, 72 milhões são gastos no Consumo Urbano e 15 milhões são gastos nos Campos de Golfe da região.

Por fim, em tom de crítica e apesar de ter apresentado e explicado as grandes medidas para poupar água, o conferencista disse que estas medidas para a poupança de água já estavam todas identificadas e descritas no Programa Nacional para o uso eficiente da água que foi elaborado há quase 1 século!!!





Seguidamente usou da palavra o representante da associação Almargem, que considerou essencial a transposição para a legislação nacional da Directiva Quadro da Água e alterar os comportamentos sociais em relação ao consumo da água. Por outro lado, Carlos Cabrita, considerou de igual modo fundamental o reaproveitamento da água usada e melhorar a eficiência dos sistemas, dando o exemplo do concelho de Portimão, onde após um investimento avolumado, conseguiu-se reduzir as perdas nas condutas para 16%, que permite poupar anualmente milhões de m3 de água. Para os jardins públicos e Campos de Golfe, o representante da Almargem fez referência à necessidade de substituir os actuais sistemas de rega por aspersão, que têm 50% de eficiência, por sistemas de rega gota a gota subterrânea que é substancialmente mais eficiente, chegando a ultrapassar os 90%. Antes de terminar, a Almargem deu a conhecer a sua apreensão em relação ao Aquífero Querença-Silves, que actualmente está numa situação preocupante, uma vez que devido aos seus baixos níveis piezométricos está em risco de salinização e que segundo informações que teve acesso, a empresa Águas do Algarve SA pretende fazer mais 10 furos, neste já sobre-explorado aquífero. A propósito deste caso, a Almargem lamentou a ausência neste debate de um representante das Águas do Algarve, inviabilizando assim a possibilidade de prestar alguns esclarecimentos considerados relevantes e pertinentes sobre este e outros assuntos.

Após o representante da Almargem ter feito uso da palavra, falou o Eng.º João Entrudo, presidente da Associação de Jovens Agricultores do Distrito de Faro, que explicou aos presentes as sérias dificuldades que a Agricultura no Algarve está a atravessar nomeadamente a apicultura, as culturas de sequeiro, a industria da cortiça e a citricultura, sobretudo em Silves.

João Entrudo considerou fundamental a atribuição de subsídios ou outro tipo de apoio similar aos pequenos agricultores da região que estão a atravessar sérios problemas. Para o futuro e de forma a minimizar os prejuízos causados por episódios de seca, torna-se fundamental utilizar a água das ETARs para a rega dos Campos de Golfe e mesmo para alguns campos agrícolas. Este orador ainda fez referência à necessidade da construção imediata da barragem de Odelouca e que se deve começar a usar dois tipos de água, isto é, a água de boa qualidade deve ser unicamente usada para consumo humano e a água de pouca qualidade (mas de boa qualidade para rega), deve ser utilizada nos campos agrícolas, jardins públicos e campos de golfe, numa alusão ao facto do Algarve ter água em quantidade, mas não em qualidade.

Por fim o Eng.º Macário Correia, presidente da AMAL, fez referencia à qualidade da água no Algarve que aumentou substancialmente nos últimos anos, dando o exemplo que antigamente, um tubo de transporte de água perdia em 10 anos, mais de metade do seu diâmetro com deposições calcárias, coisa que actualmente não acontece, bem como aos parâmetros que são analisados na água, que antigamente eram 4 e agora são mais de 60. Fez alusão às perdas de água na ordem dos 40% nas condutas de transporte, mencionando que é muito difícil detectar algumas fugas nas cidades mais junto do litoral, em virtude de muitas destas condutas se encontrarem submersas durante a maré cheia, inviabilizando assim a detecção das referidas fugas, mas que se está a começar a utilizar métodos electrónicos para essa detecção, mas têm o problema de representarem custos muito elevados.




Quanto à Barragem de Odelouca, o presidente da AMAL também concordou que a sua construção é fundamental, dizendo que apesar de ser amigo do ambiente e ter ajudado a criar muitas associações ambientalistas, considera que os argumentos a favor da construção da referida barragem são muitos maiores que os argumentos contra. Macário Correia disse ainda, que apesar de este ano, o Algarve ter capacidade de resposta para a Seca que assola a região, se esta situação persistir, será necessário recorrer a outras soluções que já estão em cima da mesa, como as estações de dessalinização da água do mar e transvasos de água oriunda de outras barragens. De qualquer forma, os níveis piezometricos da maioria dos aquíferos do Algarve estão a recuperar havendo locais onde há uma década a água encontrava-se a 100 metros de profundidade, está agora a 3 metros da superfície, embora não apresente a qualidade desejável, mas com tratamento nas ETAS (Estações de Tratamento de Águas) obtém-se a qualidade desejada, embora acarrete custos mais elevados.

Por fim, houve uma sessão de perguntas e respostas, havendo muitas perguntas que os participantes queriam colocar às Águas do Algarve, mas que não puderam ser respondidas uma vez que o presidente desta empresa, apesar de ter sido convidado para o debate atempadamente, só a pouco mais de 48 horas do colóquio/debate é que comunicou à JSD/Algarve que não tinha possibilidade de estar presente, nem havia disponibilidade de ser representado por outro elemento da referida empresa. Como é obvio, esta posição causou alguma estranheza junto dos oradores e plateia, isto porque numa altura em que a gravidade da Seca no Algarve é evidente e que as Águas do Algarve estão a gastar milhares de euros numa campanha de esclarecimento e de sensibilização junto da população, para a necessidade de se poupar água, abdica de prestar esses esclarecimentos e efectuar essa sensibilização em locais próprios, como foi este colóquio/debate.

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