domingo, janeiro 30, 2005

UNIVERSITÁRIOS COM DIFICULDADES DE SONO

Um em cada quatro estudantes universitários afirma ter grandes dificuldades de sono. A esta situação está associado o aumento de queixas de perturbações de humor, falta de vigor e fraco rendimento académico. Dois estudos da Universidade de Aveiro, que avaliaram a gestão do padrão de sono- -vigília no ensino superior, detectaram ainda outros distúrbios ao nível da qualidade do sono e da sua distribuição ao longo da semana. Cerca de 20% dos alunos afirmam nunca ou quase nunca dormir o suficiente. E pouco mais de metade tem uma noite de sono razoável apenas três a quatro vezes por semana.

Realizados por Ana Gomes e José Tavares, do Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Aveiro, e por Helena Azevedo, da Faculdade de Medicina de Coimbra, estes dois estudos avaliaram 1654 estudantes de 16 licenciaturas diferentes (do 1.º ao 3.º anos do curso), em períodos a meio dos semestres e longe, portanto, das festividades académicas. Para além de um quarto dos alunos ter uma "dificuldade elevada" de sono, mais 28% situam-se num nível intermédio, ou seja, com também têm problemas em adormecer, sofrendo acordares nocturnos ou precoces. Estes sintomas surgem associados à sonolência diurna, falta de vigor e deficiente funcionamento cognitivo.

Assim, defendem os investigadores, "uma percentagem assinalável de estudantes apresentou dificuldades de sono durante o período de aulas, com queixas de insónia e qualidade de sono pobre". De uma maneira geral, os horários ao fim--de-semana são mais tardios do que nos dias de aulas ao sábado e do-mingo a hora de despertar é, em média, duas horas mais tarde. Os investigadores detectaram ainda uma grande variedade interindividual, ou seja, muitos casos de alunos que se deitavam quando outros estavam a levantar-se. E os homens apresentam horários significativamente mais tardios do que as mulheres.

Curiosamente, são também os estudantes mais novos a mostrar-se mais "amigos" da cama, deitando-se mais cedo que os alunos de 20 a 22 anos. Significativo é ainda o facto de, para mais de 40% dos inquiridos, a entrada na faculdade, relacionada com a mudança de residência e diminuição do controlo parental, implicar uma mu-dança drástica dos hábitos de sono. O ingresso na universidade só não alterou muito o estilo de vida para 35% dos estudantes.

Como resultado, 26% destes alunos têm horários trocados são obrigados a aulas e exames matinais quando, biologicamente, têm um perfil vespertino, determinado pelos ritmos circadianos. Isto significa que são estudantes que tendem a acordar mais tarde e a sentir-se mais eficientes no final do dia ou mesmo noite adentro. Mas, assinalam os investigadores, "os horários escolares (tal como os laborais) não têm em consideração as diferenças individuais associadas aos ritmos carcadianos".

Um dos cuidados dos investigadores na recolha dos questionários foi exactamente evitar aulas em horários mais cedo, ou seja, nunca antes das 12.00, de forma a não enviesar a amostra "sub-re-presentando os estudantes mais vespertinos". E estes alunos foram os que mostraram mais sonolência diurna, uma média de queixas de humor significativamente mais elevada. No oposto, o grupo de estudantes matutino, verificou-se uma média de vigor mais elevada e melhor funcionamento cognitivo.

Assim, mesmo que os vespertinos sejam tão assíduos à aulas como os matutinos, continuam em desvantagem pela maior probabilidade de sofrerem consequências indesejáveis, quer da privação de sono à semana, quer da irregularidade semana/fim-de-semana. Nomeadamente a nível dos ritmos circadianos, potenciadores de sintomas do conhecido jet lag.

Fonte: DN

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