terça-feira, novembro 16, 2004

A REALIDADE AMBIENTAL...


A política do Ambiente atravessa hoje um dos momentos mais críticos dos últimos 25 anos.

Se por um lado, nunca como hoje, os problemas atingiram tamanha gravidade, por outro, há muito que não se verificava uma tão flagrante incapacidade dos dirigentes políticos internacionais em darem respostas a uma degradação ambiental que parece já fora de controle.

Esta é a realidade nua e crua! Veja-se o exemplo das emissões de CO2...falava-se em estabilizar estas emissões no ano 2000, ao nível das de 1990. Hoje emite-se cerca de 10% mais, em relação a 1990.

Até os média! Hoje o tempo mediatico é instantâneo. As crises duram 24, 48, 72 horas, Depois é necessário criar novas imagens para alimentar a guerra das audiências! Iraque, Afeganistão, Palestina, Israel, Ribeiras Contaminadas! Tudo é grave. Tudo é urgente. Tudo é esquecido no dia seguinte!

A destruição do ambiente também tem as suas imagens choque, também proporciona aberturas de jornais televisivos. No entanto, o problema não desaparece ao ritmo das televisões. Actua como um cancro roendo dia a dia o planeta, contaminando cursos de água, infiltrando terrenos, passando substâncias tóxicas de um escalão a outro no ciclo de vida, degradando lentamente a máquina planetária, da alta estratosfera, cada vez mais empobrecida na sua camada de ozono, ao fundo dos mares cada vez mais poluídos.

E paradoxalmente nunca foi tão grande o capital de esperança não cumprida e de generosidade não aproveitada de parte da população, nomeadamente dos jovens.

Há nas questões do ambiente um défice de comunicação e de explicitação de objectivos.

Défice de comunicação porque o tempo de antena é consumido em cenas de histeria sobre a localização de incineradoras ou aterros e não sobre a análise serena do que fazer de uma sociedade de consumo que todos os anos produz mais lixo por habitante. Vamos parar para pensar por um momento.

Queremos resolver os problemas dos resíduos? Mobilizem-se todos os interessados. Sensibilizem-se as populações. Ataque-se o problema das embalagens. Promova-se a recolha selectiva e a reciclagem. Façam-se acordos de empresa ou sectoriais para a redução de consumos de matérias primas. Alterem-se os métodos de produção. Eduquem-se as crianças e os jovens para a reciclagem, promovam-se novos agentes económicos e debata-se também a questão do tratamento final do que não pode ser reduzido, reciclado ou reutilizado.

Este exemplo poder-se-ia estender a outras áreas e problemas ambientais. Não há solução possível para os problemas do ambiente se estes forem atacados apenas no final do processo, na vã e cara tentativa de minimizar as consequências sem pôr em causa as estruturas automáticas do funcionamento da economia e da sociedade.

Por comodismo, grande parte da nossa vida é um atentado quotidiano ao ambiente, pela forma como consumimos, aquecemos, transportamos e nos divertimos. A economia ignora os custos ambientais que não se reflectem nos preços dos bens e serviços. Pelo contrário, quem investe no ambiente é em muitos casos penalizado, já que é quase sempre mais barato poluir ou destruir. Por simplismo, os políticos e os jornalistas atacam os problemas pelo que é espectacular, violento ou conflitual.

O caminho passa pela pedagogia, pela reflexão, pela análise dos mecanismos ocultos que nos levam a destruir para continuar a viver com os padrões de conforto de que não prescindimos e pela acção determinada em casos urgentes ou exemplares. Assim se despertarão as consciências, mobilizarão as vontades e se forçarão os políticos a agir.

Sem comentários: