segunda-feira, novembro 08, 2004

A Força do Algarve - O Jantar I

Bota com Santana mas exige o direito ao protesto

Candidato garante solidariedade institucional após as eleições, mas defende que a Comissão Distrital deve demarcar-se das medidas prejudiciais para a região: só assim terá legitimidade para depois pedir votos aos algarvios

Mendes Bota garante estar com Santana Lopes e com o Governo, mas espera reciprocidade e não abdica do direito de se manifestar. A principal preocupação do candidato à liderança do PSD/Algarve, expressa durante um jantar de apoio, realizado sábado, em Loulé, foi desfazer a ideia de ser oposição, ou não estar solidário com o primeiro-ministro e os membros do Governo, uma crítica recorrente dos apoiantes de Isabel Soares. A própria presença de Luís Filipe Menezes, um indefectível - de todas as horas - de Pedro Santana Lopes, não é uma escolha inocente, espelha a preocupação de passar essa mensagem.

Perante cerca de 800 militantes, Mendes Bota garantiu que " PSD do Algarve sobre a nossa liderança, a seguir ao dia 20 de Novembro, será sempre um apoiante firme e convicto do doutor Santana Lopes e do Governo, se a sua governação, ideias e projectos se coadunarem com as necessidades do País e também com aquilo que o Algarve quer".

Bota explicou aos seus apoiantes a razão deste posicionamento: trata-se de ter, depois, legitimidade e credibilidade para pedir o apoio da população. O PSD/Algarve, disse, "tem de se demarcar" das medidas prejudiciais para a região, de forma a ter depois "credibilidade para pedir aos algarvios o voto no PSD, no Governo e em Santana Lopes". Para isso, acrescentou, "o PSD não pode estar calado, alheado, quando os algarvios queriam que ele interviesse. Connosco, o PSD não estará calado, estará em defesa das posições justas do povo algarvio".

De acordo com Mendes Bota, o primeiro-ministro "tem de reconhecer o nosso direito à queixa, ao protesto e à não resignação; mas isso não tem nada a ver com tirar o tapete debaixo dos pés de Santana Lopes - é um grito legítimo de revolta: é o nosso legítimo direito de nos manifestarmos". A título de exemplo, Mendes Bota considerou "desastrosa" a introdução de portagens na Via do Infante e "inoportuno" o lançamento de uma taxa sobre as dormidas nos estabelecimentos hoteleiros.

"Quando se fala na solidariedade com o Governo", sublinhou, "é preciso dizer que a solidariedade tem dois sentidos: nós seremos solidários com o Governo, mas o Governo tem de ser solidário com o PSD do Algarve e com os algarvios".

Apelo das bases Vs. Generais sem tropas

Acentuando as diferenças entre as duas candidaturas, Bota afirmou que volta à vida política de forma "emocionada, porque o faço pela acção das bases do meu Partido, não pela acção de qualquer estrela do firmamento político, não pela acção dos generais sem tropa, mas pela vontade dos militantes do PSD".

O candidato destacou o actual momento político, claramente, pouco favorável ao Governo e ao Partido: "não nos espera nenhum banquete sobre a mesa", disse. "Os tempos vão ser difíceis - este é, porventura, o pior momento para tomar conta do Partido Social-democrata no Algarve. São tempos de desafios eleitorais numa conjuntura internacional e nacional adversa - nada corre bem", sustentou.

No entanto, considerou, "é nos momentos de incomodidade que se vê a fibra lutadora das pessoas. Nessas alturas o PSD precisa de nós, não é quando o vento sopra a favor. É com consciência das dificuldades que aqui estou hoje, para assumir o compromisso de voltar a construir um Partido com vitalidade, a mesma que nos habituou ao longo de décadas e com a qual se afirmou".

Revitalizar, acrescentou, "é pôr as bases a discutir, é tomar posições sobre as questões mais importantes para o Algarve: nós iremos discutir se há espaço para a agricultura e para as pescas na União Europeia dos dias de hoje; se o Algarve tem, ou não, condições naturais para apostar nas energias alternativas; vamos fazer estudos aprofundados para saber, verdadeiramente, quanto investiu o Estado no Algarve e quanto arrecadou para os seus cofres". Para Mendes Bota, "o Algarve poderia estar muito melhor, se houvesse uma justa contrapartida para aquilo que é o resultado do nosso esforço e dos nossos impostos".

Recuperar a festa do Pontal

O apelo às massas, a uma forma diferente de fazer política, recuperando os tempos das grandes manifestações populares, foi outra das constantes do discurso. Nesse sentido, Mendes Bota prometeu lutar pelo regresso de uma das mais emblemáticas manifestações dos sociais-democratas: o Pontal. "Há cinco anos, a festa temática, que marcava a agenda política do País - a festa do Pontal - foi enterrada, desapareceu do nosso léxico; nós tudo faremos para o Pontal voltar a agitar a bandeira da social-democracia", concluiu.

Artigo de Rodrigo Burnay/Márcio Fernandes

in Região Sul Online

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