Agora que já passou o Carnaval do Barco do Aborto, vou também eu arriscar a minha opinião pessoal sobre a questão do aborto.
Não é a opinião certa. É a minha.
Contrariamente à opinião de alguns companheiros jovens social-democratas, eu sou pela continuação da lei da I.V.G. conforme está, sem aberturas, ou pelo menos grandes aberturas, a despenalizações ou descriminalizações.
E porquê? Porque acredito que a vida de cada um pertence a cada um. Não acredito que pertença a Deus ou pelo menos não quero agora teorizar sobre isso. Basta-me acreditar que a vida de cada um só a si pertence para ser contra o aborto e, por exemplo, a favor da eutanásia por não aceitar que cada um não possa dispor livremente do seu direito à vida só por não estar na posse de faculdades físicas mínimas para o fazer.
Da mesma forma que a um paraplégico não deve ser imposta a vida se ele não a quiser, apenas porque não tem condições para contrariar a vontade do mundo exterior, também a um ser que cresce, é certo que dentro de uma mulher, não deve ser retirado o direito à vida apenas porque a sua hospedeira assim o entende. Não creio que o facto de ter gerado a criança dê à mãe o direito de a matar até porque o pai deverá ter iguais direitos sobre a criança e parece-me que nem os defensores mais radicais do aborto livre defendem que caso o pai entenda que não quer ser pai ele tem o direito de matar a criança independentemente da vontade da mãe.
Então, que direito tem a “mãe” para dispor do direito à vida de um ser que cresce dentro de si apenas porque é sua hospedeira?
Salvo os casos excepcionalmente graves salvaguardados na lei, não me parece que a condição económica, a condenação social ou a ameaça a um futuro mais ou menos planeado sejam condicionantes suficientemente graves para justificar a condenação à morte de um ser em crescimento.
Introduza-se a educação sexual nas escolas desde tenra idade e massifiquem-se as consultas de planeamento familiar por todo o país, particularmente nos meios mais pobres, e certamente diminuirá o número de gravidezes indesejadas.
Crie-se uma rede cada vez mais eficaz de instituições de acolhimento e agilize-se a lei da adopção, o que já está em marcha, e certamente serão cada vez menos as mães a preferir matar o seu filho em vez de deixá-lo nascer para o entregar aos cuidados de outrem. Que incómodos teria esta solução para a mãe?? Nove meses de “incómodo”, eventualmente a recriminação social de um filho ilegítimo e muito possivelmente o trauma psicológico do abandono de um filho. Mas o que é isto comparado com os traumas psicológicos e físicos de fazer um aborto. Além disso, quanto a mim, invocar a recriminação social como desculpa legítima para abortar é um regresso a uma Idade Média em que a recriminação social instigava a cometer as maiores atrocidades.
Também se invocam condições económicas para abortar por não poderem dar ao filho condições para ter uma existência feliz. Não creio que a felicidade seja função da condição económica porque todos os ricos seriam felizes e todos os pobres uns tristes. Não é assim e, por exemplo, a Suécia tem um dos maiores índices de suicídio do mundo enquanto os brasileiros são encarados como um povo feliz.
Um filho é uma dádiva. Deixem-no nascer e se não puderem ou não o quiserem criar, entreguem-no a quem queira, porque há muito quem queira.
Não me vou alongar mais mas espero que este post mereça os vossos comentários concordantes e discordantes.
2 comentários:
só deixo aqui um comentário se tu deixares um no meu artigo sobre o carnaval do barco do aborto :)
Nuno Vaz Correia
Fico satisfeito por saber que o Pedro Cláudio idealiza nesta matéria um mundo bonito.Infelizmente não é esta a realidde.
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